Hélia Pontes e a peteca fenomenal

Exemplo exemplar da peteca em repouso exposta na internet

Agora que tá famosa a fórmula de colocar nome próprio da personagem e a atividade relacionada à personagem como título (mais clichê que isso apenas as peças das máquinas de impressão ou corte-e-vinco), decidimos falar deste esporte sensacional que é a peteca sob o ponto de vista de Sila Batônica.

Bem, vamos lá. Esta crônica não é sobre Sila Batônica, mas sobre o esporte da peteca. Consideremos, por um instante, o esporte da peteca. Poderia muito bem ser fruto de um devaneio desnecessário, considerando o restante do universo e tudo que tem dentro e fora dele. Todavia, a bem da administração parnasiana a que estamos submetidos, cabe ressaltar suas qualificações.

O esporte da peteca é um elemento de transformação. Para a personagem que dá título a este texto, não sabemos dizer, pois não pensamos nela ainda. O esporte não precisa de nenhum tipo de regra especial, exceto ser jogado por quem tenha habilidades para fazer a peteca subir e descer – e isso pode se aplicar a várias espécies terrâneas e de outras paragens – o que não exclui também apenas mantê-la em cima de uma mesa enquanto se beberica algum líquido diferenciado (não fazemos apologia, mas você quer?). Apenas destacamos um nome deslocado no título para depois retirá-lo do contexto inicial.

A transição de Sila Batônica em jogadora de peteca, ou em Hélia Pontes, que não sabemos quem é, mas é um bom nome de guerra, faz pensarmos numa figura austera, focada em responsabilidades que não sabemos se administrativas ou criminosas, mas isso não vem ao caso. Qualquer entusiasta da peteca com nome menos sagaz pode soar abrupta, voraz ou pouco convincente.

Ninguém pensa que Graça Aranha, por exemplo, ou ainda Filomena Pena seriam campeãs de peteca. Até porque nenhuma delas existe, sendo a primeira um homem, inclusive, que não sabemos se alguma vez jogou peteca, embora um parente dela tenha feito uma pastelada fenomenal no clubinho social de nações terrâneas para criar estados que hoje só dão dor de cabeça.

A falta de desenvolvimento das personagens e a rapidez com que elas abandona sua seriedade ficcional não interessam, até porque esta narradora tem um gosto muito peculiar por nomes próprios de gosto duvidoso, especialmente aqueles que podem deixar as leitoras desconfiadas ou desconfortáveis, o que vier primeiro. Além disso, a narrativa de ficção peca ao utilizar clichês como “faíscas de curiosidade” e “beleza da simplicidade”, muito embora saibamos que pecado é uma visão muito deísta e cristã de mundo. Como sabemos, expressões desgastadas não imprimem originalidade às narrativas, tornando-a previsíveis e até um pouco piegas, considerando a sempre urgente vontade de ler coisas novas e a constante falta de novidade do mundo, já dizia qualquer poeta de qualquer período.

A escolha do parnasianismo administrativo como contexto da narrativa sobre petecas é interessante? Não. Mas a história que explora adequadamente essa faceta da burocracia humana, um instrumento de poder que já tem sido descrito como muito útil para a manutenção de poder desde Nabucodonosora, aquela safada, não tem qualquer relação com a construção das personagens, que aqui constam apenas pro forma, bem protocolar, ao melhor estilo parnasiano e administrativo.

A transição da peteca para o parnasianismo está relacionada com a possibilidade deste esporte ter surgido em alguma das várias edições de jogos pelados na Grécia, aquela que quase foi misturada com o Vrasil, mas escapou desse risco. Poderia ter sido mais sutil e melhor conectada? Tanto faz, porque, quando nos referimos ao ambiente administrativo, sempre há alguém que joga a peteca, o que necessariamente significa criar algum memorando mais ou menos assim:

“Memo 000/2024
Venho por meio deste tirar do meu e botar no seu.
Atenciosamente,
Nila Peçonha”

Em resumo, apesar da tentativa de quebrar padrões, o esporte da peteca cai na esparrela de se apegar à norma. Pelo menos, neste caso, ficam salvos os rabos de patos, galinhas e aves em geral, porque agora as penas são de plástico. Penas de plástico nas petecas tornam seu objeto principal, a peteca, num talismã da existência humana na terra. O que dirão as gerações vindouras quando encontrarem um fóssil de peteca de plástico em alguma escavação aleatória para construção de um túnel de metrô? Nada, porque túneis de metrô não são escavados por arqueólogos.

Não pedimos desculpas por quaisquer falhas de desenvolvimento que comprometem a credibilidade de nossas construções textuais. Deixaremos a construção das personagens e a coesão da história para as leitoras. Bem ao estilo do esporte da peteca.

Ass.: m., sedentária voluntária.